A ESTAÇÃO: A estação de São Carlos
foi uma das estações que inaugurou a linha da Rio-Clarense, em 1884.
Houve trens provisórios, tanto cargueiros quando mistos entre Rio Claro e São Carlos na época de construção da linha, especialmente no anos de 1883 e 1884 (veja caixas abaixo, de 1883 e 1884).
Com a compra desta ferrovia pelos ingleses em 1889, ficou determinado
que dali sairiam dois ramais, um em direção a Água Vermelha,
ao norte, e outro, em direção a Ribeirão Bonito, a oeste.
Estes ramais foram completados e entregues já pela Paulista, que
comprou a linha em 1892. Eles foram abertos em 1893
e 1895, respectivamente, e foram desativados em 1962 e 1969.
A Rioclarense foi criada e operada de 1882 a 1889, quando foi vendida,
pela famíia Arruda Botelho, donos da Fazenda do Pinhal, que
era a mesma fazenda que originou em 1857 a cidade de São
Carlos.
Por volta de 1912, o velho prédio da Rioclarense foi totalmente
reformado, tomando já as feições do atual,
imponente, uma das maiores estações da Paulista. Algumas
reformas também o alteraram mais tarde, com a substituição
das janelas de madeira por de metal e algumas ampliações.
Em 1916, chegou a bitola larga de 1,60m, que conviveu, até
1922, com uma linha paralela a ela, métrica, última
herança da Rioclarense.
"Há exatamente 25 anos eu não pisava no sagrado solo da
estação de São Carlos. Ainda ontem ouvi minha tia contar da sua
sensação ao mudar para a cidade, de como ela ficou espantada com
o movimento de bondes, carros e carroças ao sair da estação com
a família, em 23 de agosto de 1943, chegando de Dobrada. Fui fazer
uma palestra e aproveitei pra levar os velhos e fazer uma visita
à parentada. Mas usei parte da manhã para visitar a linha. A estação
está bem conservada, virou museu municipal. Obviamente fiz um belo
passeio. Mas o pátio é uma tristeza só, mato, mato, mato e vagões
velhos, a eletrificação destruída, as torres de iluminação sem qualquer
holofote. De noite deve ser um breu danado. Estava
eu justo no ponto onde embarcávamos nos carros pullman nos trens
para SP, na extremidade sul da estação, quando ouvi de repente um
apito ao longe. Velhos circuitos neuronais se ativaram em minha
mente, o coração disparou: será que é o velho trem R puxado por
uma V8? Mas não, o delírio sebastianista não durou um segundo, não
houve clarão no céu, a terra não tremeu, não soou nenhuma trilha
sonora com corais à la Cecil B. de Mille em tom apoteótico de revelação...
Era um mero sojeiro tracionado por duas Dash-9 e uma C30-7 na cauda.
Mas fotografei as Dash-9 assim mesmo - afinal, dentro em pouco elas
não mais circularão em SP e serão mais uma saudade das ferrovias
paulistas. Depois dessa, fui para minha palestra ouvindo Maggie's
Farm com o volume à toda" (A. A. Gorni, 06/2003).
Gorni conta também sobre a estação de rádio
que existia no pátio da Cia. Paulista: "Aliás, por
que será que fizeram aquela casa isolada para abrigar a estação
de rádio em São Carlos? O prédio da estação era bem espaçoso e poderia
abrigar o operador de rádio, ao invés depara isolá-lo do outro lado
do pátio. Nos áureos tempos devia ser difícil chegar até a estação
devido às constantes manobras no pátio. Meu avô contava que pontualmente,
às nove horas da manhã, o operador de rádio recebia o sinal da hora
oficial brasileira. Ele então acenava para o maquinista da locomotiva
mais próxima, que apitava longamente, avisando a população para
acertar seus relógios. Hoje... o operador ia ter de correr pra achar
alguma locomotiva. Bom, com sorte, acharia alguma encalhada. As
ferrovias brasileiras são de uma tristeza sem fim"
(Antonio Gorni, 11/2006).
"Pude testemunhar como era movimentada
e bem cuidada a estação de São Carlos há trinta e poucos anos atrás!
Nas paredes internas da estação, junto
à plataforma, existiam fotos das locomotivas famosas da Companhia
Paulista. Me lembro da foto de uma locomotiva 'Vanderléia'. No ano
passado voltei e dei um passeio até lá, já naquela consternação.
Nada dos retratos da 'Vanderléia" (Edmilson Cinquini,
02/2008).
A estação tinha diversos desvios na época da
Paulista: "Na foto do desvio Giongo, acima, aparece
uma locomotiva diesel-elétrica alemã LEW, incorporada à frota da
CP em, no mínimo, 1967. Deve ter sido tirada por volta de 1968.
Essas devem ter sido uma das últimas fotos desse desvio, já que
em 1976 ele já não funcionava. Aliás, para ser mais exato, pude
observar nesse ano que boa parte do desvio ainda estava lá, só o
AMV que o conectava com a antiga linha da CP já tinha sido removido.
Outro desvio muito interessante de São Carlos, mas muito pouco (na
verdade, quase nada) documentado é o desvio
da Serraria Santa Rosa. Ele saía da linha da CP a algumas
centenas de metros depois da estação, rumo a Araraquara, e era um
pouco mais longo que o da Giongo (esta ficava vizinha à estação,
ao contrário da Serraria Santa Rosa, um pouco mais distante). Em
1976 o traçado do desvio da Santa Rosa até a linha da CP (então
Fepasa) ainda estava livre e cheio de mato, mas os trilhos tinham
sido totalmente removidos, ao contrário do que tinha ocorrido com
o da Giongo. Em 2005 documentei o local onde passava esse desvio;
ele havia sido ocupado por quintais, garagens e edículas de casas
vizinhas" (Antonio Gorni, 20/11/2010).
O último trem de passageiros
passou por ali em 16/03/2001, vindo de São José
do Rio Preto.
Em 2017, na estação funcionavam um museu de Esportes
e o arquivo público municipal. O prédio tem sido mantido
regularmente em boas condições e havia sido recentemente
pintado; o jardim em frente foi restaurado. A locomotiva 821 da
Companhia Paulista ali exposta, que operou até os anos 1960
nos ramais de Água Vermelha e de Ribeirão
Bonito, foi restaurada.
CLIQUE AQUI PARA VISUALIZAR A ESTAÇÃO VISTA DO SATELITE
(gentileza Antonio Carlos Mussio)
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1883
AO LADO: Em qual local embarcavam as mercadorias e passageiros dos mistos anunciados neste dia 23 de abril, já que os trilhos chegariam somente depois (vrja a reportagem de 17 de julho? (A Provincia de S. Paulo,
25/4/1883). |
ACIMA: Trens para São Carlos a partir de Rio Claro em maio de 1883, portanto bem antes da inauguração da linha
em 24/9/1884 (A Provincia de S. Paulo, 23/05/1883).
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1883
AO LADO: A população da cidade estava ansiosa para ver os trens chegarem a São Carlos. Um pouco por vez. Neste dia eram os trilhos que chagavam assentados no leito até a cidade. Porém, a estação e alinha somente seriam abertas mais de um ano mais tarde (A Provincia de S. Paulo,
17/7/1883). |
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1884
AO LADO: Previsões de linhas a partir de São Carlos (A Provincia de S. Paulo,
24/9/1884). |
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1884
AO LADO: Em 15 de outubro, conforme previsto, abriu-se a estação de São Carlos (A Provincia de S. Paulo,
21/10/1884). |
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1887
AO LADO: Suicidio na estação (A Provincia de S. Paulo,
21/7/1887). |
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1887
AO LADO: Falta pessoal na na estação de São Carlos? (A Provincia de S. Paulo,
7/10/1887). |
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1887
AO LADO: A caixa de correios dentro da estação já é pequena (A Provincia de S. Paulo, 25
/9/1888). |
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1888
AO LADO: Falta pessoal evagões na na estação de São Carlos? (A Provincia de S. Paulo,
30/9/1888). |
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1888
AO LADO: Acidente com morte perto de São Carlos (A Provincia de S. Paulo,
30/9/1888). |
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1889
AO LADO: Acidente com morte perto de São Carlos (A Provincia de S. Paulo,
36/10/1889). |
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1890
AO LADO: Queixas contra a estação de São Carlos (O Estado de S. Paulo,
31/7/1890). |
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1891
AO LADO: Morte na estação de São Carlos (O Estado de S. Paulo,
23/4/1891). |
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1891
AO LADO: Problemas com as cargas na estação de São Carlos (O Estado de S. Paulo,
6/10/1891). |
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1893
AO LADO: A população da cidade pede a permanência do chefe da estação, sr. Luiz Goes (O Estado de S. Paulo,
8/4/1893). |
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1898
AO LADO: O surto de febre amarela no inerior paulista faz com que a CP tome providências urgentes na estação de São Carlos (O Estado de S. Paulo,
13/11/1898). |
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1900
AO LADO: O anúncio de supressão de trem para São Paulo desagrada à população (O Estado de S. Paulo,
10/05/1900). |
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1900
AO LADO: Ainda o anúncio de supressão de trem para São Paulo desagrada à população (O Estado de S. Paulo,
17/07/1900). |
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1900
AO LADO: Ainda se procura resolver os problemas causados pela supressão do trem PT-4 entre S. Caplos e Rio Claro- à população (O Estado de S. Paulo,
01/08/1900). |
ACIMA: A locomotiva silva na estação
e dá a hora certa em 1912.
ACIMA: No mesmo dia, a
serraria Santa Rosa recebe autorização para construir
seu desvio das linhas da Paulista às suas instalações
(O Estado de S. Paulo, 6/7/1912).
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HISTORIAS
"Meu avô contava que, durante a época da
Segunda Guerra Mundial, era complicado atravessar a ferrovia
nessa cidade, pois havia muito movimento ferroviário. Os vagões
durante as inúmeras manobras muitas vezes acabavam obstruindo
a passagem de nível e ficavam lá por um bom tempo (não tinha
essa de mandado na justiça ordenando que o trem parasse nas
passagens de nível, como hoje...). Os pedestres mais afoitos
cruzavam a ferrovia passando por baixo (ou por cima) dos engates,
o que era bastante arriscado - quem garantia que a composição
não iria se movimentar de repente?" (Antonio Gorni, 14/1/2009).
E os relógios da estação? Segundo Marcelo
Falcão de Oliveira, professor da USP, existem dois relógios
na estação de São Carlos: o da fachada (da marca Dent
de Londres) e o da plataforma, produzido no Brasil pela fábrica
de relógios Michelini, de São Paulo. Ele afirma que
o da fachada deve ter sido instalado entre 1908 e 1912 e tem
quase certeza de que o da plataforma foi instalado antes de
1922, pois desde 1909 a fábrica já funcionava,
mas ele deve ter sido colocado depois disso.
1916
AO LADO: Notícia da inauguração
da bitola larga em São Carlos (O Estado de S. Paulo,
1/6/1916).
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ACIMA: Conflito na estação de São Carlos em 1928 - CLIQUE SOBRE A MANCHETE PARA LER TODO O TEXTO (O Estado de S. Paulo, 19/11/1928).
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1935
AO LADO: O serviço postal dependia da ferrovia (O Estado de S. Paulo,
20/12/1935). |
ACIMA: SaÍam dois ramais da gare de S
Carlos, um para a direita (Ribeirão Bonito), que cruzava toda
a esplanada, como mostra a foto e do outro lado da gare saía
o ramal de Água Vermelha, que e não atravessava a esplanada
e é onde hoje a ABPF planeja colocar a locomotiva a vapor número
7 para rodar (CLIQUE SOBRE A FOTO PARA VÊ-LA EM TAMANHO MAIOR)
(Foto, esquema e texto: Alberto del Bianco, 18/11/2010. Foto provavelmente dos anos 1960).
ACIMA: Na estação de São
Carlos, a plataforma da bitola métrica (ramais de Ribeirão
Bonito e de Água Vermelha), à esquerda, com uma passagem
em madeira sobre a canaleta da linha para se poder passar e embarcar
na plataforma da linha da bitola larga, à direita. A foto deve
ser dos anos 1950. Hoje, essa canaleta da métrica está
tapada com pedras e já faz tempo (Autor desconhecido).
ACIMA: Em foto dos anos 1940 ou 1950, composição chegando do
ramal da Água Vermelha na plataforma de São Carlos (Autor
desconhecido).
ACIMA: Em frente à estação,
a parada do bonde (Foto Sergio Luiz Chinaglia, data desconhecida)
ACIMA: Locomotiva da Cia. Paulista no desvio dentro das instalações
da Serraria Giongo, próxima ao pátio da estação
de São Carlos, por volta de 1968 (CLIQUE SOBRE A FOTO PARA
VER MAIS FOTOS DESTE DESVIO) (Foto Arte Alemão, acervo
Alberto del Bianco)
ACIMA: Fotografia aérea de São
Carlos, provavelmente anos 1960, e no máximo. As linhas dos
ramais da métrica ainda estão ali, como mostra o esquema.
A estação está à direita, com o telhado
comprido. O ramal de Água Vermelha está para a direita,
fora da foto, infelizmente (Autor desconhecido; esquema desenhado
por Marco Antonio Pau).
ACIMA: Pátio de São Carlos, anos 1970 (IBGE).
ACIMA: Reforna da estação deve começar em 1979 (O Estado de S. Paulo, 04/10/1979)
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2015
ACIMA e AO LADO:
Armazém de São Carlos, com a locomotiva
do ramal de Ribeirão Bonito, ex-E. F. Dourado, enferrujando
à sua frente. Dentro do armazém, locais reservados
a ferrovias já extintas: E. F. Araraquara (em 1971)
e E. F. de Pitangueiras (em 1912!) (Fotos: Marina Fotomania).
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(Fontes: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local;
Renato Gigliotti; Sergio Luiz Chinaglia; José
Fernando Pepino; Marcelo Falcão de Oliveira; Silvio Rizzo; Marco
Antonio Pau; Antonio A. Gorni; Filemon Peres; acervo Maria
Angela P. C. S. Bortolucci; Arte Alemão;
Mateus Rosada; Alberto Del Bianco; Wilson da Silva Jr.; Hermes Y.
Hinuy; Antonio Carlos Mussio; Marina Fotomania;
IBGE; O Estado de S. Paulo, 1912 e 1916; Cia. Paulista: Relatórios
anuais, 1890-1969; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht) |