Central /
Leopoldina / RFFSA (1914-1970)
Bitola: métrica
VIAJE PELA LINHA:
ESTAÇÃO
DE GOVERNADOR PORTELA - KM 111,730 - Daqui saíam os trens
para a linha de Jacutinga, até 1970 (Acervo Marcelo Lordeiro
- 1972). O trem deixava a estação pelo ramal, tangia
as encostas da Serra da Viúva e subia até o
PONTO DA LINHA NO KM 118 (Extraído do livro Vias Brasileiras
de Comunicação, Max Vasconcellos - 1928). Até
aqui o trem seguia pela vertente sul da serra, de onde se descortina
o vale do rio Santana. Depois passava por diversas fazendas, pela
parada de Monsores e chegava à
ESTAÇÃO DE MORRO AZUL DO TINGUÁ - KM 124,278
(Foto Jorge A. Ferreira 2006). Na descida do vale do rio Tinguá,
o trem seguia para sudoeste, passava por mais fazendas, pontilhões,
pela estação da Sacra Família, descia para
noroeste, passava por uma série de morros, pela Fazenda Palmital,
voltava para sudoeste e chegava à
ESTAÇÃO DE PALMAS, DEPOIS BARÃO DE AMPARO -
KM 132,014 (Acervo Carlos Cornejo - ANOS 1920). O trem voltava para
noroeste, passava por outro vale, pela Fazenda Triunfo, pela estação
de Engenheiro Nóbrega (antiga Triunfo), pela Fazenda Cachoeira,
virava para nordeste, voltava para noroeste, acompanhando então
a rodovia que seguia de Vassouras para Mendes, cruzava a passagem
da rua Visconde de Araxá e chegava à
ESTAÇÃO DE VASSOURAS - KM 148,418 (Acervo Wanderley
Duck - anos 1960). O trem saía da estação e
logo cruzava um
PONTILHÃO DE 6 METROS - KM 148,600. Do pontilhão só sobrou
uma das cabeceiras em pedra (Foto Jorge A. Ferreira - 2008). A partir
dela, o trem se voltava para noroeste, subia até o km 150,700
e passava a acompanhar a vertente do rio das Pedras, num vale encachoeirado,
descendo até próximo ao rio Paraíba, cruzando
o rio das Pedras ao lado da linha de bitola mista (larga e métrica)
na
PONTE SOBRE O RIO DAS PEDRAS - KM 154,500. Esse rio é também
chamado de Rio das Mortes. A ponte (leia a placa) é a Ponte
de Barão de Vassouras. Aqui nesta foto a bitola métrica
do ramal já não existia há tempo. A que aparece
é a linha do Centro (Foto Ralph M. Giesbrecht - 1998). Desta
ponte de 31,80 m de extensão, o trem seguia até a
ESTAÇÃO DE BARÃO DE VASSOURAS - KM 154,667.
Na linha do Centro. Aqui o ramal se juntava à bitola mista
(Foto Ralph M. Giesbrecht - 1998). Daqui, o trem voltava a cruzar
a ponte, agora na linha de bitola mista (três trilhos) e por
ela acompanhando as águas do rio Paraíba do Sul até
cruzá-lo pela ponte do Desengano, em curva de 173 m, por
onde chegava à
ESTAÇÃO DE BARÃO DE JUPARANÃ, ANTIGA
DESENGANO - KM 157,815. Na linha do Centro. Aqui o trem deixava
a bitola mista (Foto Ralph M. Giesbrecht - 1998). A linha se separava
da linha mista e o trem seguia no sentido norte até galgar
a serra das Cruzes, donde se via um lindo panorama no km 161. Aí
cruzava um afluente do rio Quirino e acompanhava o rio virando para
oeste, passando pela estação de Quirino, passava pela
mata onde outrora houve cafeeiros (no século XIX), passava
pela estação de Carvalho Borges, cruzava finalmente
o rio Quirino, em marcha ascendente até atravessar o topo
do divisor de águas dos rios Paraíba e Preto, no km
174 a 582 m de altitude. O trem passava a descer acompanhando o
rio Esteves, que cruzava pouco antes de chegar à
ESTAÇÃO DE ESTEVES - KM 176,121 (Foto Jorge A. Ferreira
- 2004). Depois desta o trem continuava acompanhando o rio Esteves,
cruzando-o, passando pela estação de Chacrinha, cruzava
de novo o rio, subia e chegava à
ESTAÇÃO DE VALENÇA, ou MARQUÊS DE VALENÇA
- KM 182,850 (Foto Jorge A. Ferreira - 2006). Saindo da estação,
o trem cruzava o rio Barros, seguindo para nor-noroeste e cruzando
o rio das Flores por uma ponte de 19 m, no km 186,4. Subia pelo
chapadão entre o vale deste rio e o do rio Bonito, passava
pela estação de General Osório, a partir da
qual descia, cruzava o córrego Cantagalo, passava pela estação
de Santa Inácia e pela fazenda do mesmo nome, voltando a
subir até a altitude de 576 m, seguia até acompanhar
um trecho do rio Bonito, cruzava-o no km 196, para depois descer
rampa forte até chegar à
ESTAÇÃO DE VILA PENTAGNA, ANTIGA RIO BONITO - KM 197,949
(Foto Nelson Mça Jr - 2007). O trem deixava a estação
no fundo do vale e percorria um trecho difícil até
o
ALTO DA SERRA DA TAQUARA - KM 200. "Belíssimo local. Hoje,
sem trilhos, uma estrada para automóveis e caminhões precária e
extremamente perigosa" (Foto Jorge A. Ferreira - 2008). Aqui,
na garganta do Alto do Brilhante, altitude 594 m, o trem descia,
já na vertente do rio Preto (nota: a fotografia acima
foi tirada no sentido contrário, ou seja, com Pentagna à
frente), passando pela
ESTAÇÃO DE COROAS - KM 202,788 (Foto Jorge A. Ferreira
- 2008). Após esta estação, a linha passava
a seguir para oeste, onde se vê, ao longe a serra Negra. Tomando
a direção nordeste, o trem passava pela antiga parada
de Guimarães e já em rumo noroeste, passava por uma
ponte sobre uma pequena cacheoira do córrego Macuco, cruzava
uma pequena rodovia, um viaduto e já estava na estação
de Alberto Furtado. Dali continuava, acompanhando a partir de agora
o rio Preto no sentido oposto ao seu curso. Cruzava a ponte sobre
o ribeirão Santa Delfina, passava ao lado das corredeiras
do Criminoso, no rio Preto, mudava o curso para sudoeste acompanhando
o rio, passava ao lado de uma ponte interestadual que cruzava o
rio Preto - do outro lado do rio é território mineiro
- coberta de zinco e fechada no meio por uma porteira, em frente
à parada Coutinho, tranpunha o córrego São
José, passava pela fazenda São João da Mata,
tranpunha o rio Ubá e chegava à
ESTAÇÃO DE PARAPEÚNAS, ANTIGA RIO PRETO - KM
221,308 - A cidade atendida por esta estação fluminenses
estava do outro lado do rio Preto - justamente Rio Preto (Foto do
www.riopreto-mg.com - ANOS 1930). Saindo da estação,
o trem subia o vale, lembrando sempre que seguia no sentido oposto
ao rio, atravessava o ribeirão São Pedro por ponte
de 11 m, mais 4 pontes nos 9 km seguintes, passava pela estação
de Fernandes Figueira, depois pela Fazenda Glória, por um
pontilhão e chegava à
ESTAÇÃO DE CORONEL CARDOSO - KM 238,237 (Foto Nelson
Mendonça - 2007). Saindo da estação o trem
cruzava uma ponte de 41 m sobre o córrego São Fernando,
continuando pela margem direita do rio Preto e sempre vislumbrando
a serra da Taquara à sua esquerda. Mais um pouco e se via
a fazenda Santa Clara, do outro lado do rio, e a fazenda Santa Teresa,
no lado fluminense, e o trem chegava à
ESTAÇÃO DE JOÃO HONORIO, antiga SANTA CLARA
- KM 242,256 (Foto Luiz Antonio Mathias Netto - 1996). Saindo dela,
o trem passava pelo morro de Santa Clara, cruzava o córrego
Indaial, pela fazenda São Francisco, pela cachoeira Barbosa
Goçalves, passava pela estação do mesmo nome,
no km 247, 600, depois por um viaduto sobre uma estrada de rodagem,
e no km 251,600 cruzava, junto à fazenda São Mathias,
o rio Preto numa ponte de 54 m, construída sobre uma cachoeira.
Entrava então em território mineiro, seguindo para
noroeste entre pequenos morros e vegetação densa.
Subia acompanhando a margem esquerda do rio Bananal onde existe
a cachoeira de Areias. Os passageiros já podiam ver dali
a linha da Rede Mineira que também chegava a Santa Rita de
Jacutinga; a seguir, passava por um túnel de 136 m sob o
morro das Areias, cruzava-se o rio Bananal e em seguida entrava
no pátio da
ESTAÇÃO DE SANTA RITA DO JACUTINGA (CENTRAL) - KM
258,409 (Foto Ronan P. Amaral - 2002). Fim da viagem.
Veja
também:
Estações
da Linha Auxiliar e ramal de Santa Rita do Jacutinga
Contato
com o autor
Índice
Nota: As informações contidas nesta
página foram coletadas em fontes diversas, mas principalmente
por entrevistas e relatórios de pessoas que viveram a época.
Portanto é possível que existam informações
contraditórias e mesmo errôneas, porém muitas
vezes a verdade depende da época em que foi relatada. A ferrovia
em seus 150 anos de existência no Brasil se alterava constantemente,
o mesmo acontecendo com horários, composições
e trajetos (o autor).
|
Trem de passageiros que desde 1914,
até 1970. percorria o ramal em bitola métrica.
Seus antecessores foram os trens que corriam em dois pequenos trechos
isolados, um ligando Barão de Vassouras à estação
de Vassouras (Carril de Vassouras) e outra, Desengano (hoje Juparanã)
a Valença (União Valenciana). Com a abertura da linha
de Jacutinga, entre 1914 e 1918, as duas ferrovias do século
XIX foram desativadas.
No novo ramal, os trens corriam de Governador Portela até Santa
Rita de Jacutinga; quem vinha do Rio de Janeiro pela Linha Auxiliar
tinha obrigatoriamente de fazer a baldeação em Governador
Portela.
Entre as estações de Barão de Vassouras e de
Barão de Juparanã, ambas na linha do Centro da Central
do Brasil, havia bitola mista para que o trem do ramal, em bitola
métrica, pudesse trafegar.
A linha terminava em Santa Rita de Jacutinga, depois de cruzar o rio
Preto e entrar alguns metros em território mineiro. Nessa cidade
podia-se tomar a linha da RMV, que fazia o percurso Soledade de Minas
a Barra do Piraí. Ali havia duas estações, havia
de se caminhar de uma até a outra para mudar de trem.
Havia também automotrizes a gasolina que percorriam certos
trechos do ramal (ver também Subúrbios
de Vassouras). Essas foram as únicas locomotivas ou automotrizes
que esse ramal viu. As diesels não andaram nunca por ali.
Percurso:
Governador Portela-Vassouras-Valença-Santa Rita de Jacutinga.
A linha foi aberta pela Central do Brasil em 1914, terminando-a
em 1918, com a chegada a Santa Rita do Jacutinga.
A Central utilizou os leitos das antigas Carris Vassourense e da União
Valenciana, que percorriam partes do trecho do ramal desde o século
XIX.
Depois de desativados em 1970, a linha foi erradicada em 1972. Os trilhos
foram retirados. Hoje o único trecho com trilhos do velho ramal
é justamente o pequeno trecho de bitola larga entre as estações
de Barão de Vassouras e Barão de Juparanã, sem,
claro, o terceiro trilho.
RAMAL DE JACUTINGA (EM VERMELHO) - MAPA DE 1928. APARECEM
AINDA AS OUTRAS LINHAS, CITADAS NO MAPA (Extraído
do livro Vias Brasileiras de Comunicação, Max Vasconcellos
- 1928). |
ACIMA: Horário dos trens do Rio
de Janeiro para Santa Rita de Jacutinga em 1932. Notar que havia horários
diferentes dependendo do tipo de trens (sempre, na época, com
prefixo R- e S-) e pontos de destinos finais: alguns não iam
até o final do ramal, mas somente até Barão de
Vassouras ou Valença ou ainda Rio Bonito (depois Vila Pentagna),
tendo de baldear para o RV-5 (Guia Levi, fevereiro de 1932).
ACIMA: Horário dos trens do Rio de Janeiro para Santa Rita
de Jacutinga. Notar que havia horários diferentes dependendo
do tipo de
trens (sempre, na época, com prefixo S-) e pontos de destinos
finais: alguns não iam até o final do ramal, mas somente
até Parapeúna
(antiga Rio Preto), no SV-23, com baldeação e pernoite
em Valença; outros paravam em Valença. Era possível
também tomar o trem e
Dom Pedro II e em vez de baldear em Portela, fazê-lo somente
em Juparanã, e dali seguir para Valença no SV-19. Já
o SV-5 ia somente
até Vassouras (Guia Levi, dezembro de 1957).
No relato feito em 1929, nota-se que o viajante, para chegar até
Governador Portela (onde toma outro trem para o ramal de Jacutinga),
ele se utiliza do trem da linha do Centro, mais rápido e em
bitola larga,
até Belém (Japeri), para somente depois tomar a parte
da linha Auxiliar que sobe a Serra do Mar: "(Na estação
Dom Pedro II) um trem está a partir (...) Cascadura, Deodoro,
depois a rodaria da locomotiva até Belém. Aí
uma baldeação incômoda por afluência de
passageiros, alguns aliviados de dinheiro por gatunos, muitos condenados
a viajar de cegonha, num pé e noutro. Novo trem, nova máquina,
nova
linha, não nova, a da antiga Estrada de Ferro Melhoramentos.
A Central chamou-a a si e, para mostrar superioridade, crismou, denominando-a
Linha Auxiliar. Belém fica atrás. Galga o comboio a
serra do Mar, opulenta de paisagens, rica
de contrafortes. Ascenção linda para céu
de montanhas,
SACRA FAMÍLIA DO TINGUÁ - O TREM DA CENTRAL ESTÁ
DEIXANDO A ESTAÇÃO DE VOLTA AO RIO DE JANEIRO. OS CONHECIDOS
E O CHEFE DA ESTAÇÃO SE DESPEDEM (REVISTA EU SEI TUDO
- 1930)
por estrada de ferro panorâmica.
No percurso a maior variedade de aspectos em honra da
terra
brasileira, digna principalmente de filhos, que correspondam a favores
excepcionais da Providência. Ora são píncaros
que o trem contorna numa via férrea sem túneis, ora
a vista desce a
vales cujo colo se enfeita com colares de veios d´água.
Pára o trem em várias estações, Paes Leme,
Sertão, Bonfim, Vera Cruz e Conrado Niemeyer, até alcançar
risonho centro de população, com
aspectos de progresso, Portella. Em Portella o viajante escolhe. Segue
para Entre Rios (nota: hoje
Três Rios), na composição vinda de Belém,
ou toma novo comboio, de máquina a gasolina, rumo de Vassouras".
ESTAÇÃO DE VASSOURAS E O TREM MISTO (ACERVO
JORGE A. FERREIRA - ANOS 1920?).
Segundo relatos de vassourenses,
o trem misto rodava normalmente no ramal de Jacutinga até a erradicação
dos trens de passageiros em 1970.
ACIMA,
À ESQUERDA: ESTAÇÃO DE BARÃO DE JUPARANÃ
- Notar a linha métrica deixando (ou chegando) ao pátio
no lado
esquerdo da foto. Em primeiro plano, os trilhos da Linha do Centro,
bitola larga (ANOS 1950 - Acervo Christofer R.).
ACIMA, À DIREITA: Viagem de trem entre Santa Rita de Jacutinga
e Parapeúna, em 1970 (Foto Luiz
J. Lahuerta).
Entre
1963 e 1965 (quando, exatamente?), a linha foi cortada em duas. A
RFFSA deu o trecho entre Portela e Vassouras para a Leopoldina,
e manteve com a Central a linha entre Juparanã e Jacutinga.
Ambos seguiram circulando até 1970 (final de novembro). O fim
do trem de passageiros e também dos cargueiros representou
um baque para a região, ainda na época dependente demais
do trem e sem estradas decentes: "Sabido,
sacudido e distinto, aos 21 anos, foi fácil para Joaquim de Souza
Moreira, o Quim Aniceto, arrumar colocação da fábrica de manteiga
em lata, mantida desde 1912 pelos Vieira Monteiro na fazenda Bom Retiro,
na margem do Rio Preto. Bem em frente, no lado mineiro, a fazenda
de Sinhá Maria Guedes até telefone tinha. Era 1958. O baronato já
sumia, mas seus cafezais ainda conviviam com vacas leiteiras, entre
Amparo e Vassouras, no Rio, Santa Rita do Jacutinga e Rio Preto, em
Minas. Quedas d´água tocavam turbininhas e a energia excedente na
da Bom Retiro ia, por um fio sobre a mansidão verde-musgo do rio,
até a fazenda de Sinhá. Havia telégrafo na estação do trem, que vinha
do Rio por Valença. Beleza bem européia. 1970. O ministro dos transportes
Mario Andreazza parou o trem: "antieconômico", como os ramais hoje
baleados pela globalização. A reboque foi-se telégrafo, e o pessoal
passou acocho: não tinha estrada e leito de trem é ruim para cavalo
- dormente se finge de mata-burro. Sem transporte, o cafezal virou
lenha e as vacas, bife. O desmate, inclusive do café, minguou os córregos
- e a luz foi-se apagando. A da Bom Retiro já mal dava para a fábrica,
e Sinhá acabou sem. Os abonados do café com leite pararam de conversar
com o mundo e a telefônica faliu. Tristeza, bem brasileira (...)"
(Gazeta Mercantil, "Uma história em cada margem",
26/05/1998). O texto conta a degradação da vida
causada pelo êxodo rural, processo que não atingiu somente
essa região, mas o Brasil inteiro.
ACIMA: Cortado
em dois, o trecho Portela-Vassouras era operado pela Leopoldina a
partir de 1964. O trecho Juparanã-Jacutinga, pela Central.
O fim se aproximava (Guia Levi, janeiro de 1970).
A viagem de trem entre Barão de Juparanã e Quirino,
trecho de nove quilômetros da linha Portela-Jacutinga, acabou
há quase quarenta anos, mas ainda é possível,
em 2008, ter-se uma idéia do que se via por ali de dentro do
trem. O leito da linha, que em Juparanã deixava a bitola mista
e seguia no sentido de Valença em bitola simples e métrica
no meio de coisa alguma, hoje transformado em simples estradinha precária
de terra sem trilhos ou vestígios, nos permitia em poucos minutos
visualizar a linha do Centro e nela o pátio de Juparanã,
cada vez mais longe (as duas imagens abaixo),
pátio este hoje
ocupado por cargueiros que passam algumas vezes por dia entre o Rio
e Minas Gerais, e com diversos vagões estacionados nos seus
longos desvios que vão desaparecendo aos poucos de nossa vista.
A seguir, pedriscos provavelmente remanescentes ainda do empedramento
da antiga linha, continuam aparecendo no meio do mato, (as duas fotos
abaixo) com morros por todos os lados, quando aparece
uma antiga residência de turma, que depois é examinada
com um pouco mais de cuidado, mostrando sua arquitetura simples e
bela, no meio do matagal (duas fotos abaixo), mostrando que ali não
se
estabeleceu viva alma. As letras no dístico ainda remontam
ao tempo da Central do Brasil, que ali
abrigava a 1a. turma do trecho. A estação de Quirino
ainda estava longe dali, mas a paisagem não se alteraria muito.
Nem adiantaria chegar a ela, pois ela não teve a mesma sorte
da velha casa de turma e foi demolida (Fotografias de Jorge A. Ferreira
em abril de 2008).
Em janeiro
de 1970 eu, recém casado, tirei uma semana de férias e, aproveitando
que minha esposa também gozava de férias escolares (era professora),
resolvemos esticar até a cidade de seus pais, Rio Preto - MG. Após
um final de semana em Volta Redonda em casa de seus tios, rumamos
para Rio Preto tomando um ônibus para Barra do Piraí (Ciferal LP-321
da N.Sra.Aparecida). De lá mudamos para outro Ciferal da Valenciana
e, sabíamos que o trem da Central do Brasil, ramal de Santa Rita de
Jacutinga, nos levaria até Rio Preto. O problema é que seu horário
de chegada em Valença era 9:20 e, com o ônibus chegaríamos próximo
das 10:00. Mas, os parentes nos tranquilizaram : podem ir que o trem
sempre atrasa. E assim foi. O trem chegou próximo das 11:00. Uma vaporosa
com tender , arrastando seu próprio suprimento de água num vagão tanque,
um vagão box, 1 carro de segunda apinhado de gente e, 1 carro de primeira
praticamente vazio. O percurso em estrada de rodagem não chega a 30
quilômetros mas, o trem levava umas 2 horas para fazê-lo. No caminho
uma forte rampa após a estação Pentagna onde a composição quase era
alcançada por pedestres. Mais adiante, já próximo de nosso destino,
uma parada mais demorada em Alberto Furtado. Aqui a locomotiva desdobrava-se
em manobreira e adicionava outro vagão box à composição. Finalmente
nosso destino : Parapeúna, distrito de Valença com a ponte de concreto
à frente da estação unindo os dois estados Minas e Rio. Do outro lado
a cidade sede do município de Rio Preto. Não tenho muitos registros
fotográficos desta jornada, em parte por inexperiência e, em parte
pelos solavancos do trem que impediram melhor qualidade mas, o pouco
que ficou expressa a beleza e a aventura que foi aquela jornada inesquecível.
Após a travessia da ponte, já em solo mineiro logo chegamos à casa
da avó Altina, mãe de minha sogra que, aguardava-nos com um belo almoço.
Dai até por volta das 17 horas só descansar e esperar pelo caminhão
do leiteiro que nos conduziria até a fazenda, 8 quilômetros rio acima.
Este foi o início de meu contato com a região, com a qual mantenho
fortes laços emocionais até hoje (Por
Luiz J. Lahuerta, 2017).
ACIMA
e ABAIXO: Trem misto e trem cargueiro, entre Santa Rita de Jacutinga
e Parapeúna, em 1970 (Fotos Luiz J. Lahuerta).
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