A ESTAÇÃO: A estação
de Terra Nova foi inaugurada em 1883 pela E. F. Santo Amaro.
Houve resistências para a construção da linha.
A Companhia Estrada de Ferro de Santo Amaro pertencia à província,
mas em sua organização inicial planejada por Sergimirim,
necessitava faixas de terras de dois engenhos e de uma fazenda. O
Engenho Terra Nova, o Engenho Periperi e a fazenda Caracanha
pertenciam à Baronesa de Bom Jardim e a seus herdeiros.
A província em nome do governo imperial, alegava que uma vez
que as terras foram doadas às famílias, por sesmaria,
o Estado gozava, em principio, do direito inerente de desapropriá-los.
José Pacheco Pereira, proprietário rural, genro
da Baronesa e advogado dos reivindicadores, argumentava que a terra
por onde passava os trilhos não provinha de sesmaria.
Pode-se
afirmar que, no inicio do século XX, o povoado já era
chamado de Terra Nova. Isso se confirma nos dois principais
pólos econômicos, no Transporte e na Agricultura: Terra
Nova foi o nome dado tanto à estação ferroviária
como à usina de açúcar. A usina de Terra Nova
começou a operar em 1902.
Os concessionários desprenderam
na construção da usina e do primeiro trecho do "Ramal
Pacheco", de 3 ½ quilômetros, inclusive 1 ½
de linhas férreas na área da usina, para desvios de
canas, lenha e produtos, a importância de Rs 1:126$000 em moeda
legal. Este "ramal Pacheco" parece ter sido o desvio
particular que saía do ramal de Catuiçara, próximo
a Terra Nova, para a Usina São Bento.
Próximo
à estação de Terra Nova, saía,
também, para o outro lado da linha, o ramal particular de Papagaio.
A primeira safra apurada pela usina, de 1901 a 1902, coincidiu com
a mais baixa de açúcar conhecido.
Em 1906, a usina inaugurou
o primeiro trecho do ramal de Nova Sorte, com 6 km de linha (Mensagem
do Governador do Estado da Bahia, 1906, p. 44).
Em 1908, quando
os resultados da usina desde a sua abertura tinham sido ruins, os
proprietários pedem benesses ao Governador: "O arrendamento
a outras usinas de engenhos, que forneciam cana a Terra Nova e o desenvolvimento
de outras usinas que até então se limitavam a trabalhar
cultura própria e a ligação dessas à E.
F. Santo Amaro, auxiliadas pelo Estado, fez decrescer o fornecimento
de cana obrigando os concessionários, para compensar a perda
de tão sensível quantidade de matéria prima,
a aplicarem o pequeno saldo das safras, acrescidos de outras operações
de credito, na construção de ramais férreos.
Assim é que o Ramal Pacheco, iniciado em 1901, foi prolongado
e construído um desvio de 500 metros de extensão para
servir ao engenho Aramaré, ficando com extensão de 4,5
km.
Esses concessionários construíram ainda o primeiro
trecho do ramal Boa Sorte, de 6 quilômetros de extensão,
com trilhos de aço 21 quilos, por metro, com obras d'arte,
tendo sido este ramal trafegado pelas locomotivas e material pesado
da E. F. Santo Amaro. Igualmente foram necessários e impostos
pela experiência diversos melhoramentos e mecanismos novos de
modo que a usina se mantivesse ao nível de suas congêneres
que, como já dissemos, com as ligações com a
E.F. Santo Amaro, vinham concorrer na aquisição de matérias
prima.
Comparando-se a relação de mecanismos, aparelhos
e linhas férreas, de que se compunha a Usina Terra Nova, logo
depois de sua inauguração em 1901, de que existe arquivado
no Tesouro documento constante de uma certidão de inscrição
hipotecaria feita em Santo Amaro, em cumprimento a uma das cláusulas
do contrato, comparando-se esta relação com o que hoje
existe na Usina, verifica-se que os concessionários instalaram
mais os seguintes aparelhos e mecanismos: (...) Uma balança
nova de capacidade de 21 toneladas, com lastro de ferro de 9 metros
de comprimento com trilhos fixos sobre longarinas de ferro, para pegar
vagões de cana e lenha da E.F. de Santo Amaro. Ramais férreos
e material rodante: Ramal Pacheco e Aramaré de 4.1/2 quilômetros
de extensão, com trilhos de ferro, usado, de 22 quilos por
metro, com obras d'arte, com três desvios e um ramal de 500
metros para o engenho Aramaré, atravessando os canaviais dos
engenhos, Terra Nova-Periperí e Aramaré. Ramal Boa Sorte
- com o primeiro trecho construído de 6 quilômetros de
extensão.
Construíram mais os concessionários
o primeiro trecho do Ramal Boa Sorte, de 6 quilômetros de extensão,
com trilhos de aço 21 quilos, por metro, com obras d'ate, tendo
sido este ramal trafegado pelas locomotivas e material pesado da E.F.
Santo Amaro. Uma locomotiva, 10 toneladas, Baldwin, tendo mudado há dois anos a caldeira e fornalha
e este ano rodas motores e reparo de todas as peças
de movimento e casa do maquinista. (...) 20 vagões
com lastro de aço de 414 metros de comprimento por
2 de largiura, capacidade de 6 toneladas cada um. 5 vagões
cm lastro de aço de 9 metros por 2 de largura sobre
truques, capacidade de 12 toneladas cada um.
(...)
Demonstrado
como ficou, Exmº Snrs. que de fato os concessionários
têm realizado as benfeitorias e linhas férreas
na Usina Terra Nova, descritas na presente petição,
e que estimou a importância total do mesmo em quantia
equivalente a dos juros vencidos, em 31 de dezembro de 1907,
vem os concessionários que se digne tornar em consideração
o que alegam, autorizando ao Tesouro do Estado a fazer compensação da importância das benfeitorias
com a dos juros vencidos, ficando a dever a amortização,
que os concessionários se obrigam a fazer, de acordo com os
recursos da próxima safra, bem como a entrar com a importância
de R$ 30:000$000, correspondentes aos juros pelo tesouro no fim do
primeiro semestre do corrente ano e a efetuar igual pagamento no fim
do segundo semestre, ficando deste modo regularizados as obrigações
decorrentes do contrato e habilitados os concessionários a
desenvolverem o progresso da zona em que está a usina situada.
Pede deferimento. Bahia 8 de agosto de 1908. Cezar Rios Comp.".
Com a incorporação da E. F. Santo Amaro pela Viação
Férrea Federal do Leste Brasileiro (VFFLB) em 1939, a estação
passou a servir ao transporte público. Quando o principal transporte
ainda era o trem do ramal, os dias de feira eram programados, nos
lugarejos próximos , que eram distritos de Santo Amaro de forma que os feirantes pudessem participar das feiras, pois parte
deles circulava de uma para outra. Assim a feira de Jacuípe era domingo, a de Terra Nova era segunda, a de Catuiçara era sábado, como também a do Jacu. Todos esses
locais faziam parte do trecho ferroviário facilitando o deslocamento
dos feirantes de uma para a outra feira.
Em 20/10/1961, os distritos
de Amélia Rodrigues (Lapa), Teodoro Sampaio (Bomjardim), Terra Nova, Conceição
de Jacuípe (Berimbau), se desfiliaram de Santo
Amaro tirando deste os limites que tinha com os municípios
de Alagoinhas e vizinhos, Feira de Santana, Pedrão e Coração de Maria. Foi formado o município
de Terra Nova. Em 1961, ano da sua emancipação,
a ferrovia tinha 80 anos de atividade e a usina tinha apenas 60 de
moagem.
Sendo tanto um como outro empreendimentos muito importantes,
ou até indispensáveis na economia. Seus desaparecimentos
foram precoces, e muito prejudiciais para a região. A indústria
de açúcar que, desde o seu início, na época
dos engenhos, viveu sucessivas crises, com o novo processo industrial
da cana de açúcar, não mudou muito, as crises
continuaram, culminando com o fechamento de uma a uma das usinas (S.
Carlos, S. Bento, Passagem, Santa Elisa, Cinco
Rios etc). O ramal de Catuiçara foi fechado em 25/05/64,
de acordo com ferroviários da região. Levou um período
ainda servindo as usinas Terra Nova e Paranaguá, sendo
depois erradicado pela RFFSA, retirando trilhos e agulhas.
A vez de Terra Nova chegou: no ano de 1972, tornou-se uma usina de fogo
morto. "Em Terra Nova, o povo viveu uma vida de cana, canavial,
engenhos e usinas. E por isso, como os demais negros do Recôncavo,
brincavam e se distraiam do mesmo modo: era o samba de roda, lindro-amor,
quermesses, queima de palhinha, mês de Maria nas casas. Esses
folguedos foram desaparecendo com o tempo. Partiram com o Trem de
Catuiçara, com a moagem da usina, antes até da chegada
do asfalto e da televisão".
Das usinas, instaladas
no inicio do século XX ou nos últimos anos do século
XIX, delas só resta a usina Aliança. A estação
de Terra Nova, ainda existe, em petição
de miséria, servindo de moradia, no meio de imensa sujeira. "Esta não é a primeira estação. Apesar de ter sido reconstruída
exatamente no mesmo lugar da anterior, foi erguida com um telhado
de uma água. A primitiva tinha de duas águas, com varanda avançando
em proteção a plataforma da sua frente" (Textos baseados
nos textos do site www.bangue.com.br).
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1960?
AO LADO: Bilhete da Leste Brasileiro de primeira classe, em
trem de Calmon a Terra Nova, talvez anos 1960 (Acervo desconhecido). |
ACIMA: A usina de Terra Nova, hoje praticamente
toda derrubada. Uma das poucas construções ainda de
pé é a velha chaminé (a mais alta). Ao fundo,
a cidade de Terra Nova, hoje sede de município. À esquerda,
o leito do ramal de Catuiçara, com a ponte ao fundo. A estação
estava à esquerda, fora da foto (Enciclopédia
dos Municípios Brasileiros, volume XXVI, IBGE, 1958).
(Fontes: www.bangue.com.br; Guia
Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960;
IBGE: Enciclopédia dos Municípios
Brasileiros, 1958; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht) |