RMV
(1927-1962)
Bitola: métrica
O trenzinho
partia da estação de Itajubá. Acima, ela aparece
ainda funcionando, mas já mal cuidada, provavelmente anos 1970
(Autor desconhecido). Abaixo, a mesma estação em fevereiro
de 2005, já desativada há muito tempo (Foto Ana Maria
Giesbrecht).
Abaixo, a estação terminal de Delfim
Moreira, muito simpática, mas já desativada desde 1962
- a foto é de 2005 (Foto Ana Maria Giesbrecht).
Veja também:
Contato com o autor
Indice
Nota: As informações contidas nesta página
foram coletadas em fontes diversas, mas principalmente por entrevistas
e relatórios de pessoas que viveram a época. Portanto
é possível que existam informações contraditórias
e mesmo errôneas, porém muitas vezes a verdade depende
da época em que foi relatada. A ferrovia em seus 150 anos de
existência no Brasil se alterava constantemente, o mesmo acontecendo
com horários, composições e trajetos (o autor).
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Trem
que durante 35 anos fez o percurso entre Itajubá e Delfim Moreira,
em bitola métrica. Sempre teve apenas locomotivas a vapor. Eram
trens mistos. Linha antiga e curta - 36 quilômetros - em região
montanhosa, tinha curvas e mais curvas, como se pode ver pela enorme
volta que ele dava pelo vale onde está a estação
de Biguá, nas fotos abaixo.
Acima, À esquerda, horário dos trens do
ramal de Delfim Moreira em fevereiro de 1932. Eram dois trens mistos
diários (MS-5 e MS-53), um pela madrugada e outro no meio da
tarde. À direita, o trem em julho de 1960, já dois anos
antes de seu final. Havia um trem apenas, no final da tarde, e mais
dois trens que percorriam apenas 4 quilômetros, até o Pacatito
(km 4) onde existia a fábrica de explosivos. Provavelmente, pelos
horários, era um na hora da entrada e outro na hora da saída
da fábrica (Guias Levi, datas indicadas). |
ACIMA: (À esquerda) o trem vinha, cruzava
a ponte... (à direita) ...seguia por onde é a estradinha
de terra... ABAIXO: (à esquerda) chegava à
estação de Biguá... (à direita)... passava
pela caixa d'água, seguia e ia subindo lentamente...
ABAIXO: ...até chegar a um
ponto onde passava para o outro lado do vale, continuava subindo a
montanha do outro lado, naquele leito que
podemos ver ainda hoje do outro lado do vale, visto de frente da estação
de Biguá, do lado de cá... que paisagem devia ser isto
quando a
locomotiva a vapor ainda resfolegava por ali (Fotos Ralph Mennucci
Giesbrecht em 2005).
No ramal de Delfim Moreira só viajei até o Biguá, onde tínhamos amigos.
Ia com meu avô, que era da Administração Fazendária do Estado. A gente
pegava o trem de manhã. O trem, saindo da estação
de Itajubá, pegava para o lado esquerdo e depois, numa bifurcação,
novamente à esquerda - o
direito ia para Pouso Alegre. Passava por dentro da cidade, cortando
várias ruas, e ia parar na
Fábrica de Armas: Estação Pacatito, lembro-me bem o nome. Alguns chamavam
de Quilômetro 4.
Depois, continuava margeando o Rio Sapucaí, subindo o rio, e parava
numa outra estação que
esqueci o nome. Mas quem se utilizava dela era o pessoal da zona rural
que morava num local
chamado de Ponte Santo Antônio, onde havia uma ponte sobre um afluente
do Sapucaí, coberta de folhas de aço zincado. Dalí, o trem fazia uma
curva acentuada para a esquerda e começava a subida da Serra da Mantiqueira.
Passava por um local chamado Água Limpa e a subida se tornava mais
íngreme. O Biguá ficava no Quilômetro 24 ou 25. Lá eu ficava com meus
amigos e passava o dia em cima das goiabeiras. Certa vez, comi tanta
goiaba que tive uma cólica da qual me lembro até hoje. À tarde, pegava
o trem de volta, reencontrando o meu avô que viajava sempre de chapéu
e guarda-pó para não sujar o seu terno. A viagem era realmente muito
bonita e meu avô até escreveu um soneto sobre ela e que foi publicado
num jornal de Juiz de Fora. Todo decassilábico, com métrica, rimas
alternadas, etc. O trem normalmente era misto e, na época da safra
de marmelo, transportava muita fruta e também a polpa já processada,
acondicionada em latas. O marmelo me traz muita recordação porque,
além do doce em compota que minha mãe fazia, sempre havia, ao lado
do fogão, uma varinha para eventual necessidade de um corretivo. Aquilo
era super-flexível e assobiava no ar que era uma beleza... Em Delfim
Moreira, havia instalações da Indústria PEIXE e também da CICA. Depois
a produção de marmelo entrou em decadência. Não sei se foi uma praga
ou concorrência de outras regiões. Mas, perto de Delfim Moreira, há
uma cidade chamada Marmelópolis, tanta foi a importância econômica
que a fruta teve para a região. Aliás, a verdadeira Itajubá é Delfim
Moreira. A atual cidade de Itajubá foi fundada por dissidentes da
Vila que se formara no alto da serra, no final do século XVIII, em
torno da mineração do bandeirante paulista Miguel Dias. Como progrediu
mais, passou à condição de Cidade antes que Delfim Moreira e ficou
com o nome. Daí surgiu uma grande rivalidade. Os itajubenses se referiam,
no meu tempo, a Delfim Moreira como "Itajubá Velho". Isso se refletia,
principalmente, nos jogos de futebol que, invariavelmente, terminavam
em confusão (Depoimento de Francisco Seixas, 05/2008).
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