Nova Louzã (Mogi-Guaçu, SP) |
Nova Louzã
"Eu vou dar-lhes um quadro rapido e singello da Nova Louzã, aquela notável colônia que é um dos mais nobres titulos de orgulho para a nossa provincia (...) É o seu proprietario (...) meu excellente e velho amigo commendador João Elisario de Carvalho Monte-Negro (...) Realmente não se descreve a jovial perspectiva da Nova Louzã, para quem a sauda pela primeira vez ao dar de face com aquelas casas alvejantes, aquelle soberbo pomar, que a cerca por todos os modos, aquelle mimoso jardim odorifero, aquelles comodos elegantes, aqulles engenhos, aquellas plantações, aquelles riachos e tanques onde a formosa se está a mirar como noiva desmaiada e tremula (...) Da estrada que passa em frente ao estabelecimento, dominam-se as pastagens cuidadosamente tratadas, e desce-se procurando a morada além sobre uma outra elevação encantadora, depois de atravessar-se o caudaloso corrego, Arouca (...) Duas vezes fomos à rua dos Bambus, uma avenida belissima. Percorremos o laranjal e todo o mais arvoredo de fructas, chegando enfim ao delicioso lago da Saudade, onde passamos instantes embevecidos na observação de logares tão apraziveis e que prendem a attenção não só pela formação natural dos terrenos, como pelos ornatos que a arte e o bom gosto têm por alli distribuido a mãos largas (...) Os cafezaes estavam luxuriantes de seiva e de forças. Deve ser muito consideravel a sua actual colheita e muito maior a seguinte. Planta-se tudo alli: o trigo, a cevada, o centeio, a mamona, a hortalice, os legumes, etc,: há completa abundancia de viveres e não só do que é propriamente preciso para a manutenção, mas ainda do que é mais para lisongear o paladar que o estomago, como os fructos raros e exquisitos (...) Vimos as novas construcçòes: commodos para tudo - capella, quarteis de casados, dormitorios de solteiros, tulhas, celleiros, macchinas de beneficiar café, olarias, terreiros, poço, lagar, lavanderia, etc, e tudo nas melhores dimensões e tudo aceiado, largo, respirando conforto e aconchego (...) Campinas, Francisco Quirino dos Santos, 11 de setembro de 1879". Assim foi descrita a colônia, fundada pelo comendador Montenegro em 06/02/1867. O relator do artigo, publicado no Almanach Litterario de S. Paulo, de 1880, era irmão de Bento Quirino, mais tarde presidente da Cia. Mogiana e nome de estação. Aliás, o relator também se tornou nome de uma, na Ituana. Em 1889, a ferrovia chegou em Nova Louzã, no mesmo dia da abertura do ramal todo. Era, na época, uma estação que rivalizava em importância com a de Pinhal. Mais tarde, construiu-se ali uma usina. Em 1961, a estação foi fechada, juntamente com o ramal de Pinhal. Depois, a usina foi fechada, a vila praticamente morreu, o local hoje parece uma cidade-fantasma. Somente restou a paisagem, ainda como era há 120 anos; a única cultura que existe por aquela região é a de cana, em terrenos que hoje são da Usina São João, de Araras. A antiga estação é usada como moradia e está completamente descaracterizada e cercada. Ralph M. Giesbrecht, abril de 2002 *A colônia
de Nova Louzã fica hoje às margens da rodovia Mogi-Guaçu-Pinhal,
e está abandonada, como citado acima. (Fontes: Almanaque Literário,
José Maria Lisboa, 1880; relatórios da Cia. Mogiana;
o próprio autor) |
O mapa de 1956 (IBGE) mostra a estação e fazenda Nova Louzã, a nordeste da cidade de Mogi Guaçu, junto do limite do município. Ainda aparece o ramal da Mogiana e, como hoje, a estação fica à beira da rodovia Mogi-Pinhal, que já existia na época. Uma foto antiquíssima que aparece no Almanaque Literário, José Maria Lisboa, de 1880 mostra a Nova Lousã do português João Monte Negro na época. Infelizmente não é essa a paisagem que vemos hoje; somente se vê o canavial e uma ou outra casa abandonada, além da usina, construída mais tarde e também abandonada Acima, a descaracterizadíssima outrora estação ferroviária de Nova Louzã, construída em 1889 por Nicolau Rehder, empreiteiro da Mogiana. Virou favela... Foto do autor em 1999 Para saber mais sobre a estação ferroviária de Noca Lousã, clique aqui |