Fazenda Guatapará
A fazenda Guatapará, c. 1911, ainda com o ramal
particular, antes de ali existir o ramal da Mogiana. Foto do livro
"Brazil Magazine", no. 57, 1911
"(A fazenda Guatapará) ...refletia o
pensamento de seu fundador: o conceito moderno de terra - terra cultivada,
dos seus 6.268 alqueires, 1.111 eram cultivados, tinha 56 trabalhadores
brasileiros para 1.610 imigrantes. Valia 6.616 contos de réis, enquanto
a fazenda tinha sido comprada por 70 contos de réis passou a valer
noventa vezes o preço de compra.
"As terras da fazenda eram distribuídas. Assim, 2.688 ha eram cultivados
em café; 480 ha em cereais e 48 ha em cana de açúcar. Por aí, se percebe
o predomínio do café, produto destinado à exportação. Os demais produtos
eram usados na pequena fazenda e o restante era vendido.
"Para manter essa imensa cultura, era necessária muita gente e uma
forte estrutura. A grande propriedade era dividida em quatro grandes
seções: Marco de Pedra, Brejão Grande, Monteiro e Guatapará, possuindo
no total 500 edifícios, destinados à casa dos diversos diretores,
máquinas de café, oficinas, depósitos, farmácia, hospital, cocheiras
e um grande número de casas dos trabalhadores. Cada seção era organizada
de tal maneira que havia tudo para o seu custeio e vida própria. Segundo
a revista Brasil Magazine: "É somente na parte administrativa que
ellas estão todas ligadas a sede central que é Guatapará e que em
meio dellas faz o papel da capital de uma pequena e bem ordenada federação".
"Havia 452 casas de colonos, sendo assim distribuídas: Guatapará -
377; Brejão Grande - 34; Marco de Pedra - 23 e Monteiros - 18. Segundo
as publicações da época, as casas eram construídas de tijolos e com
todos os cuidados higiênicos. (NOTA DO AUTOR: Segundo a família
Monteiro da Silva, proprietários da atual fazenda Baixadão,
onde está hoje localizado o terreno onde um dia esteve a estação
ferroviária de Monteiros, a fazenda Monteiros jamais foi uma
seção da Guatapará).
"A seção central, Guatapará, era uma pequena cidade, com uma farmácia
com clínico na direção, Joaquim de Miranda Alves, bem equipada com
produtos de remédios e produtos antissépticos e até com alguns remédios
importados da Itália. Havia um médico, Dr. I. Guzzo, formado na Universidade
de Nápoles. Havia também uma escola ítalo-brasileira, um negócio de
comércio de produtos alimentares, mercearia e leiteria, um hotel,
uma igreja e um cemitério, construído segundo as regras de higiene.
"Para o lazer dos trabalhadores, de tempos em tempos, uma companhia
dramática e de variedades fazia uma série de espetáculos na fazenda.
"Morava e trabalhava na fazenda uma população de 2.074 pessoas das
quais 1.662 de nacionalidade italiana, 110 brasileiros e 302 de outras
nacionalidades. Moravam lá 343 famílias.
"A parte de serviço do tratamento do café é grandiosa e moderna. A
máquina de beneficiar o café é moderna e produz diariamente cerda
de 15.000 kg, bem preparados que podem passar diretamente para o mercado
de consumo.
"A energia para o movimento dos maquinários vem de um motor de 150
hp a vapor. Esse motor toca quatro dínamos elétricos. Três deles tocam
uma série de máquinas para descascar, polir, separar e secar o café.
O quarto dínamo se destinava à serraria de madeira, ao torno mecânico
e ao moinho.
"Os terreiros para a secagem do café são imensos: 65.00 metros de
superfície, todos com piso de tijolos e com uma camada de asfalto,
ficando o piso liso e impermeabilizado. Não se perde um grão de café.
Há também um terreiro menor nos mesmos moldes na seção do Brejo Grande.
"Há um condutor hidráulico que tem 5 km de comprimento e transporta
o café por água até o terreiro. Esse condutor foi construído aproveitando
o declive do terreno e economizando muito tempo no transporte do café.
"Na Guatapará, encontram-se algumas fábricas: uma de cerveja, uma
de água gasosa, duas de tijolos e de ladrilhos. Elas fornecem seus
produtos para as fazendas vizinhas, também para a Companhia Paulista
de Estradas de Ferro. Há também um curtume de peles.
"O sistema de transporte da fazenda era um dos mais modernos. As linhas
da Mogiana passavam dentro da fazenda, onde havia uma estação junto
à sede administrativa (seria uma parada junto ao paiol, chamada
popularmente de "Chave", pois que a estação
de Vila Albertina ficava mais longe da fazenda, ao lado da "Casa
da Laranja" - nota do autor), perto da máquina de beneficiar
e dos terreiros, e, em 1911, havia um ramal ferroviário particular
para o trabalho exclusivo da grande lavoura. O transporte de café
para vagões da estrada de ferro era feito por 20 carroções com 150
mulas. (O ramal particular da fazenda Guatapará funcionou
até cerca de 1960. - nota do autor)
"A fazenda Guatapará foi um colosso de modernização, porém no que
diz respeito à relação moderna com os trabalhadores ela demorou a
adotar."
( Extraído de "O Signo da Modernidade nos Cafezais", volume
1, de Daici C. A. Freitas, ECA, USP, 1994)
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Acima, mapa do IBGE, c. 1956, mostrando a cidade de
Guatapará: na época um distrito de Ribeirão Preto,
a sede
ficava na fazenda, como aparece no mapa. Aparecem no
mapa as linhas da Paulista, da Mogiana e do tramway
particular da fazenda.
Em 1962, a sede do distrito foi mudada para junto da estação
da Cia. Paulista, junto ao rio Mogi. Nos terrenos da fazenda, ao lado
da "Casa das Laranjas",ficava a estação ferroviária
de Vila Albertina, na Mogiana, não tão próxima
à casa-sede (no mapa acima, o nome da estação
não aparece). O nome de Vila Albertina foi dado em homenagem
à esposa de Martinho Prado e se chamava "vila" pois
a intenção era que ali fosse o embrião de uma
cidade que se esperava tornar-se maior que Ribeirão Preto.
Hoje, nem a estação, nem a casa-sede, nem os prédios
da fazenda existem mais. Foram demolidos pelos atuais proprietários,
por volta de 1998. Sobrou apenas a "Casa das Laranjas",
o antigo engenho e mais um ou dois prédios. Nos anos 1950,
os Prado já haviam vendido a fazenda para os Morganti, que,
nos anos 1970, a venderam para os Silva Gordo. Estes, por sua vez,
venderam a parte alta para a família Ermírio de Morais
e a parte da sede e prédios para a Usina São Martinho,
de Pradópolis, em meados dos anos 1990. Estes demoliram a maioria
dos prédios para o plantio de cana. Até a velha e lindíssima
casa-sede foi abaixo, ela que, nos seus tempos de decadência,
ainda servia como hospedaria para os times de futebol que iam enfrentar
as equipes de Ribeirão Preto.
Na foto abaixo, a sede da
fazenda em 1939.
Na foto abaixo, visita do
Secretário do Governo do Estado,
sr. Cardoso de Almeida, e comitiva, à fazenda Guatapará,
em
1917. Foto "A Vida Moderna" no. 315, 5/7/1917
Para ver as figuras abaixo
em tamanho grande, clique sobre
elas. Elas devem demorar para abrir pois estão em grande
resolução. Os
desenhos são de autoria do Arquiteto João
Paulo Papandreu Lemos, que os fez para um trabalho
acadêmico e autorizou a sua reprodução nesta página.
Eles
mostram a fazenda Guatapará através da memória
de
João Paulo, que passou sua infância no local.
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Acima:
1. Mapa da fazenda que inclui a linha da Mogiana (ramal de
Monteiros)
2. Sede da fazenda Guatapará
3. Planta dos jardins defronte à casa-sede da fazenda
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Acima:
4. Sede da fazenda
5. Frente e fundos da sede
da fazenda
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Acima:
6. Flanco A da sede da fazenda
7. Flanco A da sede da fazenda
8. Planta do piso do 1o. pavimento
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Acima:
9. Planta do porão da casa-sede
10. Detalhes da construção
11. Detalhes do telhado
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ferroviárias de Guatapará-Mogiana,
Guatapará-Paulista,
Vila Albertina e Monteiros
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