HISTORICO DA LINHA: Este trecho
da Leopoldina na verdade era uma junção de várias linhas isoladas
originalmente, construídas em épocas diferentes. O trecho entre Entre
Rios (Três Rios) e Silveira Lobo foi aberto em 1903 e 1904; o seguinte,
até a estação de Guarani, ficou pronto em 1883 e havia sido construído
e operado pela Cia. União Mineira, até a entrega à Leopoldina, em
1884; o trecho entre esse ponto e Ligação ficou pronto em 1886, enduanto
daí para a frente, até Ponte Nova, foi entregue entre os anos de 1879
e 1886. Entre 1912 e 1926, entregou-se a linha até Matipoó (Raul Soares)
e finalmente, em 1931, a linha chegou a Caratinga, de onde não passou.
Havia um trem de Barão de Mauá, no centro do Rio de Janeiro, para
Caratinga, via Petrópolis, todos os dias, desde que a linha completa
foi entregue, em 1931. Sem trens de passageiros desde os anos 1980
(em 1980 ainda existiam trens mistos fazendo o serviço de passageiros
entre Ubá e Caratinga, vindo de Recreio, na antiga linha-tronco
da EFL), a linha foi erradicada em 1994 nos
trechos Três Rios-Ligação e Ponte Nova-Caratinga; o trecho intermediário
consta até hoje como tendo "tráfego suspenso". |
A ESTAÇÃO: A estação
de São João Nepomuceno foi inaugurada em 1880
pela Cia. União Mineira e incorporada, com a linha,
pela E. F. Leopoldina em 1884. Ela fazia parte originalmente do ramal
de Serraria, desativado em 1904 e com esse trecho da linha incorporado
à linha Três Rios-Ubá.
Dizem alguns respeitáveis autores – como Edmundo Siqueira em 1938 e, talvez guiado por ele, também José de Castro Azevedo – que a inauguração da linha férrea até São João teria ocorrido num dia não especificado de 1880 (Veja caixa de 1880, abaixo) Entretanto, já encontramos fontes bastante fidedignas, como jornais contemporâneos, informando que o trecho são-joanense da ferrovia foi inaugurado alguns meses antes disso, mais precisamente numa quinta-feira, 24 de junho de 1880, e somente quatro dias após a inauguração, no domingo prévio, do trecho anterior, de Bicas até Roça Grande (https://sjnhistoria.wordpress. com/2017/08/03/o-trem-o-barao-e-o-ressurgimento-de-sao-joao-nepomuceno/).
Dom Pedro II
andou na União Mineira até São João
Nepomuceno, em 1881: -"(...) 5 ½ Acordei. Vou ler. Saio às
7h. Caminho conhecido até Serraria. Cheguei às 8¾ a Juiz de Fora. A cidade tem aumentado muito. Bela avenida
com bonitas casas que devem arborizar. Almocei numa destas que é do
barão de Cataguazes. Partida do trem às 11h 10'. Nada de novo até
Serraria. Aí entramos no trem da estrada de ferro da União Mineira.
Percorremos 84 km até o arraial - vila ainda não instalada de S. João
de Nepomuceno. A estrada para subir parte da serra do Macuco tem 2
ziguezagues com plataformas. Tem 7 estações pequenas porém bem construídas
conforme a aparência. Vista muito bela assim como mato viçoso de Bicas
para diante. Descobre-se amplo vale fechado por altas montanhas, e
perto de S. João avista-se a alta serra do descoberto de contorno
original. Grande número de quilômetros a começar da Serraria passa a estrada
por fazendas de café muito bem plantadas e algumas com casas feitas
com bom gosto. Há interrupção de terras tão boas para voltarem estas.
Vim conversando com o engenheiro Betim cuja direção inteligente e
ativa revela-se no modo porque a estrada foi construída e tendo trilhos
de aço, e com o desembargador Pedro de Alcântara Cerqueira Leite a
cuja influência se deve sobretudo a estrada que é de bitola de um
metro. (...)" (Trecho do Diario de Dom Pedro II vol.25, 27
de abril de 1881 (4a fa), copiado de José Carlos Barroso - cessão
Marcus Granado).
Na linha que passava por São João Nepomuceno rodaram trens de passageiros até a primeira metade dos anos
1970, e foi suprimida oficialmente somente em 1994, depois de anos
sem uso.
Em 2011 a estação servia como rodoviária. Além
disso, ela abrigava, além de algumas lojas particulares, uma Biblioteca
Municipal, cursinhos de informática, sala de exposições de artezanato,
etc.
Quanto à fábrica de tecidos, aberta em 1895: "(Havia)
um ramal ferroviário que se localizava na antiga Fábrica de Tecidos
de São João Nepomuceno. Segundo um habitante antigo que trabalha no
local, havia na fábrica um ramal da Leopoldina que buscava materiais
da fábrica para a estação e da estação para a fábrica. Essa atividade
era feita com um tróleibus pequeno, devido ao tamanho da bitola da
linha. Segundo esse habitante local, hoje funciona na primeira parte
da antiga fábrica uma lavanderia" (Pedro Leal, 10/12/2012).
Ver fotos dos trilhos pela cidade mais abaixo nesta página.
1880
AO LADO: Inaugração das estações de Roça Grande e de São João Nepomuceno (A Actualidade, 26/6/1880) |
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1900
AO LADO: Desordeiros arrancam trilhos na estação de São João Nepomuceno (O Estado de S. Paulo, 05/03/1900) |
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ACIMA: Acidente da Leopoldina em São João
Nepomuceno, em 1934. "Tombaram locomotiva e composição,
tendo ardido cinco carros. Morreu no local o foguista José
Pereira Godinho e, um dia depois, o machinista (A Noite Illustrada,
2/10/1934).
ACIMA: Embarque de leite na plataforma de São
João Nepomuceno em 1958.. Notar que os latões
de leite foram deixados longe do vagão (Foto Tibor Jablonsky).
ACIMA: Fábrica de tecidos de São João Nepomuceno em 1971 (VEJA, 15/12/1971).
ACIMA: Como em diversas outas cidades servidas pela
Leopoldina, o trem passava na rua em São João (http://www.
sjnepomuceno.mg.gov.br/ - foto possivvelmente dos anos 1970).
ACIMA: Trilhos do ramal ainda se encontravam dentro
da fábrica de tecidos em 2012, bem como na rua (Fotos Pedro Leal em 2012).
ACIMA: Trilhos do ramal ainda se encontravam também nas ruas próximo à fábrica de tecidos em 2012 (Foto Pedro Leal em 2012).
ACIMA: A estação em 2012 (Foto Jorge
Alves Ferreira).
(Fontes: Julio Alves, 2016; Pedro Leal; Jorge Alves Ferreira; Honor Pacheco;
Marcus Granado; http://www. sjnepomuceno.mg.gov.br; Diario de Dom
Pedro II, vol. 25; A Noite Illustrada, 1934; Cyro Deocleciano Pessoa
Jr.: Estudo Descriptivo das Estradas de Ferro do Brasil, 1886; Guia
Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Guias Levi, 1932-82)
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